Ouro e Barro

Oi,
Aqui está minha coluna desta semana. Ela será publicada no Diário do Comércio (Associação Comercial de São Paulo), no Meio Norte (Teresina), na A Gazeta (Cuiabá), no Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e no Brazilian Voice (uma publicação voltada para os brasileiros residentes em toda costa leste dos EUA) deste final de semana.
Saudações musicais.
Fraternalmente,
Aquiles Rique Reis
O ouro musical de Raul Ellwanger
Raul Ellwanger (lê-se “elvanguer”) é um músico gaúcho. Mais do que isso; é um cara que não se contenta com pouco. Mais ainda, um sujeito que se aprimora em cada coisa que faz, tantas... Agora mesmo, entre uma sessão de gravação e outra, dedica-se às bromélias e ao mar que banha seu pé de terra lá pelas bandas praieiras de Santa Catarina.
Vivido, viajado, preocupado com o mundo ao redor, sua música surge em forma de um mosaico de ritmos, harmonias e melodias. Suas letras são escritas para pensar em voz alta aquilo que costuma sempre dizer nas conversas em mesas de bar e também em reuniões em que se pensa para onde vai o Brasil, essa nação que vive atolada em suas imperfeições, apesar de ser forte e de ter um povo sereno e batalhador.
Raul Ellwanger nos vem com um novo CD no qual expressa sua vocação para ser de todo o mundo. Ouro e Barro – Quinteto e Convidados é a forma, nova forma, que ele escolheu, dentre as tantas que continua exercitando, para se fazer ouvir e também para se fazer melhor entendedor daquilo que lhe vai à alma (e ao coração de sua gente). Raul fala a língua do gaúcho, mas fala também a linguagem da América Latina e de outras terras brasileiras, lugares onde também já pôs os pés e sentiu-lhes a força. Talvez essa seja a marca principal deste seu oitavo disco: retribuir cantando o que recebeu em cada uma das localidades por onde passou. Todas as músicas são de Ellwanger, que tem parcerias com Cláudio Veracruz e com Nelson de Castro, além de ter musicado o lindíssimo poema “Cantiga Para Não Morrer”, de Ferreira Gullar com quem Raul conviveu no exílio, e outro de Mário Quintana (“O Mapa”).
Em Ouro e Barro não falta diversidade de ritmo, não há economia de instrumentos e muito menos se poupa talento – tudo para dar ao trabalho a integridade com que certamente Raul Ellwanger sonhou ao concebê-lo. Ouro e Barro – Quinteto e Convidados nasceu da união de talentos que reconhecem em seu anfitrião os méritos para que dessem o melhor de si. E assim fez Cristóvão Bastos, e também fizeram Renato Borghetti, Plauto Cruz e Muni. Com esse mesmo empenho, disseram presente os integrantes do quinteto: Luizinho Santos, saxofonista e flautista; Alexandre Rosa, clarinetista e saxofonista; Boquinha do Trombone; Everson Vargas, contrabaixista; e o percussionista Luís Jakka, um caro amigo.
Também atenderam ao chamado da música de Raul o violoncelista Flavio Depaoli e os violinistas Vinicius Nogueira e Karlo Kulpa. Todos os arranjos escritos para o quinteto de sopros e para o trio de cordas são de Ellwanger. Bem dosados, plenos de solos inspirados, eles são a tônica dominante das 20 faixas do álbum.
Sob a direção do arranjador Pablo Trindade, o quarteto vocal integrado por Renata Fröhlich, Luciana Alves, Sandra Ritter e Maira Machado abre o CD. A elas coube cantar “Bonito”. Lindamente cantado, o arranjo de Trindade conduz a melodia até as entradas do violão e logo depois do ritmo e dos sopros; e o vocal volta em contracanto para encerrar o cartão de visita do disco. Junto com “Cantora D’Alfama”, fado pungente, cantado docemente pela ótima cantora Muni, e “Doce Amada”, que tem o talento de Renato Borghetti a embalá-la, estas três músicas são o auge do disco.
Ellwanger canta com voz macia, às vezes insegura, mas sempre pronta para revelar soluções melódicas inesperadas que se traduzem tanto em uma nota para cada sílaba, como em notas prolongadas. Esses recursos, somados às harmonias de um compositor e músico (Raul é violonista) cada vez melhor em seu ofício, fazem com que suas letras ganhem força. E o disco se engrandece, na medida em que os versos, se não têm grandes achados poéticos, representam o sentimento profundo do autor.
E assim, com os pés na terra e a alma no mar, Raul Ellwanger se refaz em música moldada em ouro e barro.
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4, é produtor e apresentador do programa O Gogó de Aquiles na Rádio Roquete Pinto FM do Rio de Janeiro, às segundas-feiras, das 15h às 16h: www.fm94.rj.gov.br

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